No cenário atual, onde os custos na saúde estão em constante aumento, é crucial entender como operadoras podem controlar a sinistralidade para manter a sustentabilidade financeira. Neste artigo, abordo as principais estratégias que podem ser adotadas para enfrentar esses desafios.
“Tenha cuidado com os custos pequenos! Uma pequena fenda afunda grandes barcos.”
– Benjamin Franklin
Nas últimas semanas, realizamos uma série de estudos avaliando os impactos da retomada dos procedimentos eletivos represados em um cenário de elevação generalizada dos custos em 2021 e 2022 (Entenda a evolução da inflação médica). Com o reajuste negativo da ANS, a sinistralidade alcançou patamares elevados e levou o setor a um prejuízo operacional.
Para os próximos meses, a tendência é de manutenção do cenário, visto que o reajuste anunciado pela ANS para 2022/2023 poderá ser insuficiente para a recuperação das operadoras de saúde. Recentemente, outros anúncios têm preocupado o setor:
1.
Rol exemplificativo:
Aprovado em todas as instâncias em agosto e recentemente suspenso por decisão de Ministro do STF, o piso elevaria os custos de assistência hospitalar tanto na rede prestadora quanto na rede própria das operadoras (entenda os impactos da aprovação para o setor de saúde brasileiro). Embora suspensa, a decisão será avaliada nas próximas semanas;
2.
Piso de enfermagem:
Aprovado em todas as instâncias com início da vigência em setembro. O piso elevará os custos de assistência hospitalar tanto na rede prestadora quanto na rede própria das operadoras (entenda os impactos da aprovação para o setor de saúde brasileiro);
3.
Piso para fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais:
Aprovado no Senado e enviado para a deliberação da Câmara dos Deputados. Assim como o item 2, o piso elevará os custos de assistência médica da rede prestadora e própria das operadoras. Vale destacar que somado à definição do item 1 (Rol exemplificativo), o incremento será ainda maior devido à elevação do atendimento de terapias especiais.
Diante deste cenário, a seguinte pergunta é realizada, quais estratégias para controle de custos e despesas podem ser adotadas para a manutenção da sustentabilidade financeira das operadoras de saúde?
Conteúdo
1. Ganho de Escala
Usando como exemplo as cooperativas médicas de Sistema Unimed, agrupamos o Sistema em 10 partes iguais em número de singulares, denominadas decis. Cada decil possui cerca de 25 cooperativas agrupadas. O agrupamento se deu por porte com base na Receita Operacional (sem efeitos da RN 430), com base nos dados de 2021 e no 1º trimestre de 2022, ou seja, no 10º decil estão as 25 cooperativas com maior faturamento operacional do Sistema, enquanto no 1º decil estão as 25 menores.
Ao analisar o percentual de representatividade das despesas administrativas sobre a receita por decil, temos:
Nos menores decis as cooperativas destinaram no 1º trimestre de 2022 próximo a 20% das receitas para a sua estrutura administrativa (3,5 p.p a mais que 2021), já as maiores cooperativas 10% (1,63 p.p a mais que 2021). Observando o gráfico, fica claro que as maiores operadoras conseguem uma diluição das despesas administrativas. Ou seja, quanto maior a operação em termos de faturamento, menor o peso da estrutura de custos e despesas fixas.
O maior faturamento pode ser alcançado de algumas formas:
- Aumento de beneficiários: esse aumento pode ocorrer de forma orgânica, com uma maior comercialização de planos, ou de forma inorgânica, como a compra de carteiras;
- Aumento do ticket médio: talvez a mais desafiadora de incrementar a receita. Em um cenário de alta competitividade, com maior representatividade dos planos coletivos empresariais e redução do poder de compra da população, a demanda é por planos de baixo custo. Entretanto, algumas operadoras buscam mercados de maior valor agregado e personalização de serviço, como planos especiais para idosos e planos de saúde de alto padrão.
- Diversificação da receita: para incrementar a receita, algumas operadoras buscam a diversificação, como o investimento em outros negócios por meio da constituição de holdings, atendimento de outros convênios e particulares em seus recursos próprios e maior receitas financeiras por meio de Fundos de Investimento em Direitos de Crédito (FIDC), que permitem que a operadora financie sua rede prestadora.
A principal estratégia para o ganho de escala pelos grandes grupos de saúde está no aumento de beneficiários, tanto com crescimento orgânico (com uma agressiva estratégia de comercialização de planos de baixo custo e rede de atendimento verticalizada) e também crescimento inorgânico, por meio de operações de M&A (veja o histórico de operações de M&A no setor). Abaixo, detalhamos o ganho de escala absorvido pelas operadoras verticalizadas onde capitanearam as operações de M&A do setor nos últimos anos, Hapvida e NotreDame:
Vale destacar que as operadoras anunciaram fusão ainda em 2021 e em fevereiro de 2022 divulgaram as sinergias esperadas com a operação: R$800 milhões de aumento de receitas com cross-selling, a venda de produtos complementares para os beneficiários, R$330 milhões de redução de custos médico-hospitalares e R$250 milhões de redução de despesas gerais e administrativas. Isso é ganho de escala.
Como o Sistema Unimed pode crescer de forma inorgânica?
Buscando esses ganhos de sinergia e o fortalecimento do Sistema Unimed, a XVI Finance desenvolveu metodologias personalizadas e tem assessorado as cooperativas em dois modelos: por meio da Assessoria para Implementação do Modelo Operadora e Prestadora e Incorporação entre Cooperativas Médicas. Conheça nossa metodologia:
2. Verticalização da operadora:
Diante de um cenário de alta inflação médica (VCMH), o controle de custos se torna ainda mais importante. Para as operadoras não verticalizadas, o controle dos custos é mais difícil, poisa assistência está nas mãos dos prestadores, que muitas vezes não possuem escala e eficiência operacional, repassando o aumento do custo para a própria operadora, que vê o seu custo com a rede crescer, dependendo de negociações frequentes para adequação das tabelas.
A verticalização de recursos próprios busca centralizar a gestão dos custos na operadora, que possui demanda garantida (pelos próprios beneficiários), escala e passa a controlar mais um elo da cadeia de atendimento e consequentemente uma maior participação na experiência do beneficiário. Vale destacar que o modelo permite uma eficiência de custos imediata, visto que se evita a bitributação (no caso de cooperativas médicas, o ato cooperativo não é tributado) além da economia com a margem de lucro cobrada pelo próprio prestador.
Vale destacar que essa estratégia não se justifica para qualquer operadora, e depende de um estudo prévio de viabilidade. São diversos os casos de insucesso de verticalização no segmento. Detalhamos alguns dos fatores que podem inviabilizar a verticalização:
- Superdimensionamento do projeto: são muitos os casos onde são construídos hospitais superdimensionados, com grande desperdício de áreas e estrutura, consumindo o investimento realizado em uma estrutura de custos pesada e ociosa, o que eleva os custos para a operadora sem gerar savings (economias) suficientes;
- Subdimensionamento do projeto: hospitais são grandes centros de custo e a depender de seu porte, seus custos fixos são superiores à capacidade de faturamento do empreendimento, inviabilizando-o;
- Dificuldade de direcionamento da demanda: para uma operadora de saúde, a verticalização tem como objetivo retirar a demanda da rede prestadora e direcionar para a rede própria. Quando é aberta uma nova porta de atendimento, sem a retirada da rede, há criação de demanda e com isso, duplicidade dos custos, inviabilizando não apenas o projeto, como também colocando em risco a operação de planos de saúde, devido a elevação da sinistralidade;
- Absorção de procedimentos de baixo valor agregado: muitos são os casos em que a baixa complexidade (de baixo valor agregado) é absorvida enquanto a alta complexidade (de alto valor agregado) é mantida na rede prestadora. O investimento deve ser realizado para controlar os principais custos da operadora, e grande parte dos custos estão na assistência médico-hospitalar de maior complexidade;
- Demanda insuficiente: a depender do porte da cooperativa, a demanda da carteira não é suficiente para justificar o investimento em verticalização, não sendo capaz de suportar os custos fixo da estrutura;
- Alto poder de barganha com a rede prestadora: em alguns casos, principalmente em operadoras com alta concentração de mercado, geralmente fora dos grandes centros, o poder de barganha perante a rede prestadora é alto e o custo é baixo, o que justifica a manutenção da terceirização do serviço acima da verticalização.
O estudo de viabilidade atesta se a verticalização é uma boa estratégia para a operadora gerar valor econômico, mas a forma como o projeto será financiado pode maximizar ainda mais esse valor. Conheça alguns desses modelos:
A XVI Finance atua em todo o processo de verticalização e já realizou mais de 100 estudos de viabilidade para o setor de saúde e captou mais de R$750 milhões para esses projetos, conheça nossa metodologia ou contate um consultor:
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3. Tecnologia e gestão de dados:
O setor da saúde está passando por uma autêntica revolução digital com a inclusão da tecnologia em seus processos e melhor gestão dos dados. Há poucos anos, imaginar que um paciente pudesse realizar consultas e exames sem sair de casa (telemedicina), com médicos a quilômetros de distância, parecia apenas a descrição de um conto de ficção.
A ciência e a tecnologia são os fatores-chave para explicar a redução da mortalidade por várias doenças e em contrapartida, o aumento da longevidade tem trazido outros desafios, tais como condições de saúde crônicas e mais complexas.
Publicamos dois textos sobre o tema: os impactos do envelhecimento na saúde suplementar e nas acreditações das operadoras.
O acesso e o compartilhamento dos registros médicos têm um enorme potencial de redução de custos. Boa parte dos gastos com saúde são evitáveis, derivados da escassez de informação. Quando se tem acesso a um volume maior de dados, a operação se torna mais eficiente e eficaz, possibilitando a antecipação de diagnósticos e evitando a duplicidade de custos, tornando a medicina mais rápida e precisa.
Na parte comercial, a Inteligência de Mercado é fundamental para a identificação de oportunidades e ameaças de mercado, munindo a operadora para construção das suas diretrizes comerciais. A personificação do público-alvo, o mapeamento das tendências de mercado e a identificação das estratégias de concorrentes, são algumas análises que permitirão um melhor planejamento comercial. Essas ações possibilitam um atendimento mais rápido e personalizado, tornando o custo de conversão menor.
A XVI Research tem assessorado o Sistema Unimed com a Inteligência de Mercado acumulada em anos de atuação com operadoras e hospitais de todo o país.
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4. Acompanhamento e gestão constantes dos resultados
Deve fazer parte da gestão das cooperativas programas de acompanhamento constante dos resultados realizados, com análise crítica e criação de ações para solução de desvios. O modelo de gestão com base no ciclo PDCA é a base para garantia e gestão contínua dos custos e despesas da cooperativa.
Esse processo vem de uma boa orçamentação, combinada com atuação crítica da equipe técnica e apoio da alta gestão para combate a desvios e desperdícios nos centros de custos e despesas.
A XVI Finance tem assessorado e encontrado sucesso na gestão contínua de resultados, com metodologia própria e apoiando boas tomadas de decisão com base em longa experiência no Sistema Unimed e capacidade de trazer boas práticas de mercado e outras cooperativas para dentro das singulares.
5. Remuneração médica baseada em valor:
O modelo de remuneração médica mais utilizado no setor de saúde ainda é o fee for service, que remunera a quantidade da utilização e não a qualidade e eficácia do tratamento. Existem outros modelos que buscam melhor alinhar os interesses entre médicos, hospitais e operadoras, valorizando o trabalho médico. Alguns desses modelos vinculam o pagamento ao rendimento, como a remuneração baseada em valor e o bundled services. Outros modelos permitem maior previsibilidade dos gastos para operadoras e receitas para médicos, como o capitation e o orçamento global.
O pagamento por performance, permite melhorar a percepção do usuário quanto à experiência assistencial, incentiva práticas de prevenção e eleva a eficácia dos tratamentos. Com isso, há uma maior eficiência de custos em todo o ciclo do cuidado, promovendo um melhor atendimento para o paciente e a sustentabilidade do sistema de saúde.
Para garantir a sustentabilidade das nossas clientes, a XVI Finance tem assessorado diversas Unimedes para a construção de um Programa de Valorização do Cooperado. O programa tem o objetivo de valorizar o trabalho do médico cooperado pautado na qualidade da assistência prestada aos pacientes. Através dele, o cooperado tem mais transparência e visibilidade às informações assistenciais e econômico-financeiras incentivando sua participação e engajamento enquanto sócios da cooperativa.
Como a XVI Finance tem assessorado o Sistema Unimed a garantir sustentabilidade financeira em momentos de crise?
Com atuação de 10 anos no setor de saúde, a XVI Finance já realizou dezenas de projetos de consultoria no segmento, tendo atuado com mais de 50 cooperativas do Sistema Unimed. Com extensa experiência e know-how no setor de saúde suplementar e no cooperativismo, foram desenvolvidas metodologias específicas e personalizadas para a demanda de cada cliente, garantindo segurança, sustentabilidade e resultado para nossos clientes.
Com o aumento dos custos na saúde, as operadoras enfrentam desafios significativos para controlar a sinistralidade. Ganho de escala, verticalização, uso de tecnologia e gestão de dados, além de modelos de remuneração médica baseados em valor, são algumas das estratégias eficazes. A adoção de práticas de gestão contínua e o investimento em inovação são fundamentais para garantir a sustentabilidade financeira das operadoras de saúde, especialmente diante das pressões econômicas atuais.
Saiba mais sobre
O que é sinistralidade?
Sinistralidade refere-se à proporção entre os custos gerados pelos sinistros e o total de prêmios arrecadados por uma operadora de saúde.
Por que é importante controlar a sinistralidade?
Controlar a sinistralidade é vital para garantir a sustentabilidade financeira da operadora, evitando prejuízos operacionais.
Quais são as principais estratégias para controlar a sinistralidade?
Ganho de escala, verticalização da operadora, uso de tecnologia e dados, gestão contínua dos resultados e remuneração médica baseada em valor.
Como o ganho de escala ajuda no controle da sinistralidade?
O ganho de escala permite a diluição dos custos administrativos e aumenta a eficiência operacional, reduzindo a sinistralidade.
O que é verticalização em operadoras de saúde?
Verticalização é o processo pelo qual a operadora adquire ou desenvolve recursos próprios para prestar serviços de saúde, centralizando a gestão de custos.
Como a tecnologia pode ajudar no controle da sinistralidade?
A tecnologia permite melhor gestão dos dados, antecipação de diagnósticos, redução de custos desnecessários e maior eficiência operacional.
Saiba mais sobre Como controlar resultados negativos nas operadoras
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