Impactos do envelhecimento para a área de saúde suplementar

Uma vez que a transição demográfica não ocorre de maneira uniforme em todas as regiões do país, qual seu impacto na saúde suplementar?

Um breve histórico da transição demográfica brasileira nos mostra que o país iniciou seu processo de envelhecimento a partir dos anos 70, quando as taxas de natalidade e mortalidade reduziram simultaneamente.

De acordo Vasconcelos (2012), a idade mediana da população era de apenas 18 anos, durante a primeira fase da transição demográfica. Com o avanço das fases ao longo dos anos, a idade mediana passou a ser de 20 anos entre 1970 e 1980, e em 2010 aumentou para 27 anos. Isso evidencia o envelhecimento da população brasileira tal qual observa-se através do gráfico de evolução etária abaixo:

Disparidades Regionais

No entanto, é necessário pontuar que o processo de transição demográfica não ocorre de maneira uniforme em todas as regiões do país. As disparidades regionais também se refletem neste processo, quando observamos a velocidade com a qual o envelhecimento populacional de cada região ocorre.

Por exemplo:

A Região Sudeste e Sul são as que têm passado pela mudança etária há mais tempo e de forma mais acelerada, em comparação com as Regiões Norte e Nordeste. Essa mudança torna-se um ponto crucial para o entendimento dos impactos do envelhecimento na saúde suplementar: a nível Brasil, a inversão da taxa de crescimento ocorre em 2048 e a da Região Sul, a título de exemplo, ocorre 12 anos antes.

Sendo assim, tomando o horizonte de tempo regional, os impactos do referido processo estão as vésperas de ocorrer quando se trata de população. Isso porque, em decorrência da rapidez com que o envelhecimento de algumas regiões ocorre, novas demandas e novas características populacionais têm surgido.  Por conseguinte, quando as características demográficas mudam nas populações, novas políticas públicas são pensadas para atender às novas demandas e necessidades.

Este torna-se um fato ainda mais alarmante considerando que, segundo a OMS, até 2025, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos. Sendo assim, entre as principais preocupações das políticas públicas, com esta mudança etária, destacam-se duas: o fator previdenciário, já que a população idosa é alvo de transferências orçamentárias e a mudança do perfil epidemiológico do país.

Mudança do Perfil Epidemiológico

Concomitantemente, é imprescindível pensar que a mudança do perfil epidemiológico, através do qual identifica-se o quadro geral de saúde de uma população, trará diversas implicações no setor da saúde como um todo, já que a proporção de idosos no total da população brasileira fará com que as diretrizes no setor da saúde sejam repensadas para se adequar à nova realidade. 

Nesse contexto, é possível pontuar duas grandes questões que podem impactar o setor de saúde suplementar:

1-

O envelhecimento da população: de acordo com uma pesquisa disponibilizada na biblioteca do IBGE, por Celso Cardoso, a média de internações, o gasto médio das internações e a média de permanência na rede hospitalar é maior para idosos do que em outros grupos, como se observa na tabela abaixo:

Sendo assim, quando levamos este resultado para o âmbito da saúde suplementar tem-se que, por decorrência de uma necessidade maior em assistências para a população idosa – como depreende-se da tabela – associado a um crescimento cada vez maior da proporção de idosos na população, a sinistralidade das operadoras pode aumentar, tendo em vista um aumento nos custos.

2-

O aumento da sinistralidade: o desempenho das operadoras pode ser prejudicado. Para tanto, é preciso pensar em estratégias desde já para que as operadoras estejam preparadas para essa mudança de cenário no país.

Mudança Etária no País

O segundo grande impacto decorre da conjuntura econômica que receberá essa mudança etária no país. Vimos que parcela significativa da previdência dependerá do aproveitamento da janela demográfica atual. Se novas políticas não forem pensadas para abarcar todas as implicações dessa mudança demográfica brasileira, a população idosa pode vir a ficar desamparada, em termos de renda, já que muitos dependerão exclusivamente da previdência social.

A população demandando cada vez mais serviços de saúde, à medida que sua longevidade aumenta e a renda per capita diminui, seja por problemas da previdência seja porque essas pessoas já não são mais economicamente ativas, então haverá dificuldade em repassar o aumento dos custos no ticket médio, limitando a penetração dos planos de saúde para esse público.

Além disso, o reajuste dos planos individuais e familiares, regulados pela ANS é historicamente inferiores a inflação médica, como vemos nos gráficos abaixo. Então, a pressão por eficiência será cada vez maior, e apenas operadoras eficientes se manterão no mercado.

É preciso pontuar que o envelhecimento e aumento da longevidade da população brasileira deve ser recebido e entendido como uma de suas conquistas mais importantes, pois este processo representa um avanço em termos humanitários, uma vez que por trás do processo de envelhecimento estão conquistas como:

  • Queda na taxa de mortalidade;
  • Avanços médicos conquistados;
  • Redução de mortes por falta de condições sanitárias adequadas;
  • Aumento da expectativa ao nascer e
  • Outros indicadores que nos levam a crer na melhoria das condições de vida da sociedade brasileira.

 

Diante disso, algumas alternativas preventivas surgem para melhor recepcionar a mudança etária no país.

Como mencionado na pesquisa de Celso Cardoso pelo IBGE, a média de internações, o gasto médio das internações e a média de permanência na rede hospitalar é maior para idosos do que em outros grupos. Então, se as diretrizes tomadas pelas operadoras forem no sentido da medicina preventiva, esses custos podem ser evitados à medida em que se promove ações de cuidados no longo prazo (exames preventivos, consultas periódicas e checkups anuais).

Essa postura preventiva está em consonância com a Campanha do Envelhecimento Ativo promovido pela OMS da qual o Brasil é signatário e, através do Programa do Ministério da Saúde “Brasil Saudável”, tem promovido modos de viver mais saudável em todas as etapas da vida para que se tenha a base de um envelhecimento saudável.

Perante a esse contexto, as operadoras de saúde podem ajustar seus próximos passos e suas ações de promoção à saúde desde o momento presente, pensando que em seu futuro cada vez mais próximo, terão em suas carteiras um número cada vez maior de idosos.

Referências

BRITO, Fausto. A transição demográfica no Brasil: as possibilidades e os desafios para a economia e a sociedade. Texto para discussão n. 318. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar. 2007. Disponível em: https://www.ufjf.br/ladem/files/2009/05/A-TRANSI%C3%87%C3%83O-DEMOGR%C3%81FICA-NO-BRASIL2.pdf . Acesso em: 10 de ago. 2021.

OMS. Envelhecimento ativo: uma política de saúde / World Health Organization; tradução Suzana Gontijo. – Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005. 60p.: il. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/envelhecimento_ativo.pdf. Acesso em: 09 ago. 2021.

SIMÕES, Celso Cardoso Silva. Breve Histórico do processo demográfico. 2016. Biblioteca do IBGE. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97884_cap2.pdf. Acesso em 10 de ago. 2021.

VASCONCELOS, Ana Maria Nogales; GOMES, Marília Miranda Forte. Transição demográfica: a experiência brasileira. Epidemiol. Serv. Saúde,  Brasília ,  v. 21, n. 4, p. 539-548,  dez.  2012 .   Disponível em <http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742012000400003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  11  ago.  2021.  http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742012000400003.

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