Qual a melhor estrutura de capital para uma operadora de saúde?

Entender o funcionamento e conhecer as fontes que compõem a estrutura de capital é importante, veja as possibilidades no mercado da saúde.

Uma discussão sempre em alta no Brasil refere-se a taxa de juros. Com a manutenção da taxa Selic em 13,75% a.a. na última reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central) realizada em março e, descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, o Brasil se mantêm como líder em juros real no mundo.

Esse cenário de juro elevado influencia diretamente na forma como as empresas escolhem em se endividar, o que chamamos de estrutura de capital. 

A estrutura de capital de uma organização refere-se à forma como ela é financiada, ou seja, como a empresa obtém o dinheiro necessário para financiar suas operações e investimentos. Isso envolve a utilização de dívida e capital próprio para financiar seus ativos e operações. 

A dívida inclui empréstimos, títulos, notas promissórias e outras formas de financiamento que devem ser remuneradas e reembolsadas em algum momento no futuro. Já o capital próprio refere-se ao dinheiro investido pelos proprietários da empresa, incluindo as ações emitidas aos acionistas, também demandando remuneração.

Entender o funcionamento e conhecer as fontes que compõem a estrutura de capital é importante tanto para gerenciar as atividades do dia a dia de uma organização quanto para gerenciar como ela é percebida por investidores e instituições financeiras.

Esta é uma temática muito atual e relevante, especialmente para o setor de saúde, que vem demandando mais capital nos últimos anos para a realização de investimentos em novas estruturas e equipamentos, de maneira a responder aos desafios do setor, como maior competitividade e redução de margens. Nesse sentido, fica evidente que o tema não se restringe apenas às empresas de capital aberto, como muitas vezes fazemos associação. 

Conforme comentado anteriormente, a estrutura de capital influenciará diretamente na avaliação de risco, ou seja, no custo que os bancos, investidores e demais credores exigirão para fornecer crédito. E, em momentos como o atual, no qual o mercado vem restringindo cada vez mais o crédito, bem como o custo de se contratar um empréstimo ou financiamento voltou a patamares elevados, precisamos nos questionar:

Qual a melhor estrutura de capital para uma operadora de saúde?

A resposta para esta pergunta está relacionada ao conceito de risco-retorno. Para qualquer tipo de investimento, buscamos sempre maximizar o retorno assumindo o menor risco possível. Nesse sentido, para investimentos com maior risco, espera-se obter também maior retorno, e vice-versa. Adicionalmente, devemos considerar as questões específicas ao setor de saúde, como o cenário competitivo atual e questões regulatórios que interferem na formação desta estrutura de capital.

Considerando válida a premissa de risco-retorno, precisamos compreender quais os fatores que influenciam o risco e o retorno de uma operadora de saúde para, assim, determinar qual a sua estrutura ótima de capital, bem como entender se essa estrutura é estática ou se ela varia ao longo do tempo.

O primeiro ponto dessa análise é compreender o que ocorreu com as operadoras de saúde da modalidade cooperativa médica nos últimos anos. O Gráfico 1 a seguir apresenta a participação da Imobilização¹ em relação ao patrimônio líquido dessas entidades.

 

¹Refere-se ao nível de imobilização presente nos demonstrativos do 3º trimestre de cada ano, calculado pela relação entre o saldo do Imobilizado sobre o Patrimônio Líquido.

Analisando o nível de Imobilização, percebemos algumas variações, com destaque para o movimento de alta visto no ano de 2022. 

Dentre os diversos fatores que explicam essas variações, temos os efeitos contábeis da pandemia do COVID-19 e a retomada da tendência de imobilização. No caso da pandemia, o efeito foi sobre o patrimônio líquido das operadoras de saúde, com redução da sinistralidade e aumento do patrimônio pela maior geração de resultado em 2020, reduzindo assim a participação do imobilizado. 

Já para os demais anos, a elevação da imobilização é reflexo do investimento em verticalização no setor de saúde suplementar, com muitas cooperativas médicas investindo em recursos próprios para fazer frente a redução de suas margens e aumento da competitividade (para saber mais, acesse aqui).

De maneira complementar, vemos no Gráfico 2 a seguir a elevação do endividamento sobre o PL. Este conjunto de indicadores demonstra a elevação da participação de capital de terceiros na estrutura de capital das cooperativas médicas, tendência que se acentuou em 2022 não apenas por questões de investimento, mas para fazer frente a piora de desempenho no ano.

O Gráfico 2 a seguir apresenta o histórico de endividamento bancário (empréstimos e financiamentos de curto e longo prazo) das Operadoras de Saúde do modelo de cooperativas médicas nos últimos anos.

 

É interessante observar novamente o movimento que ocorreu ao longo dos anos, com o nível de endividamento atingindo o maior valor dos últimos anos, de 13,71% no 3º trimestre de 2022.

O aumento do endividamento ocorre em conjunto também com a retomada da elevação da Taxa Selic. Apesar do menor apetite ao elevado custo de captação – e consequentemente de novos investimentos – o movimento de endividamento atual está relacionado às dificuldades financeiras de algumas cooperativas médicas decorrente da deterioração do desempenho em 2022.

Todo esse movimento no mercado ocorre após alguns anos de fortes turbulências no setor de saúde suplementar. Além dos efeitos do COVID-19 em anos mais recentes, já estava em curso a consolidação e verticalização entre as operadoras de saúde (para saber mais, acesse aqui). Esse processo deverá continuar nos próximos anos, especialmente se considerarmos o cenário descrito no Gráfico 3 apresentado a seguir.

Vemos que o EBITDA médio das cooperativas médicas registrou um pico de 13,66% em 2020, resultado do represamento de exames eletivos, além de outros efeitos decorrentes da pandemia do COVID-19 que contribuíram para maior utilização de recursos e geração de receitas. 

Já nos anos seguintes, a pressão dos custos e ambiente econômico desfavorável levaram ao registro de um EBITDA negativo (-1,09%), acompanhado do volume recorde de despesas financeiras no período (R$ 213 milhões em despesas financeiras decorrentes de empréstimos e financiamentos).

A partir deste cenário desafiador, muitas Operadoras de Saúde começaram a adotar estratégias para melhorar o desempenho econômico e reduzir a pressão que o custo de capital provocou em sua estrutura. 

Dentre as soluções, estão a busca pelo melhor controle de custos, com a verticalização, e a busca pela diversificação de riscos, realizada por meio de investimentos em outros empreendimentos. Esta última opção normalmente possibilitada com a estruturação de uma Holding para absorver esses novos negócios.

Independente da ação adotada, o objetivo é o mesmo: voltar a ter uma operação superavitária e reduzir os custos das fontes de financiamento. Ou seja, otimizar a estrutura de capital por meio da redução de seu custo. Para atacar estes problemas, há algumas estratégias disponíveis e que começaram a fazer parte do dia a dia das operadoras de saúde. Dentre estas ações, temos:

  • Reestruturação de dívidas: conforme visto anteriormente, houve um crescimento acelerado de 2021 para 2022 tanto do nível de endividamento quanto do montante de despesas com empréstimos e financiamentos. Uma primeira opção para reduzir o efeito desta pressão sobre a operação é a renegociação de dívidas, consolidando-as em uma mesma instituição financeira e sob a mesma linha de crédito. Decorrente das incertezas atuais do cenário econômico, a tendência é de maior enfoque destas renegociações no alongamento da dívida do que na redução das taxas de juros.
 
  • Estruturação de Fundo e Desmobilização: este tipo de operação já é muito comum em outros setores e agora chega de vez na área da saúde. A constituição de Fundo de Investimento Imobiliário (FII) permite a operadora captar o investimento necessário para investir em um empreendimento, sem que isto constitua uma nova dívida em seu balanço. Da mesma forma, pode-se utilizar desta operação para um recurso já existente, fazendo o processo de desmobilização. Ou seja, a operadora vende/transfere a posse de um recurso próprio, como um hospital, para determinado fundo, recebendo em troca o valor do imóvel e podendo utilizar este recurso para pagar e renegociar dívidas. Já como contrapartida, passa a pagar um aluguel pela utilização do recurso.
 
  • Estruturação de Holding: esta é uma das operações que ganhou força no Sistema Unimed nos últimos anos. A Holding é uma empresa criada com o objetivo de concentrar os ativos das empresas que compõem um grupo econômico, como no caso de uma cooperativa médica que possui participação em outras empresas ou ativos, como imóveis. A decisão de sua estruturação deve fazer parte de um planejamento maior, no qual outras operações como a de desmobilização, estruturação de FII, incorporação de outras unidades de negócio, dentre outros, devem estar no radar de ações futuras.
 

Perceba, portanto, que a resposta para nossa pergunta inicial sobre a melhor estrutura de capital para uma operadora de saúde não é algo tão simples. Estas são apenas algumas das opções que podemos citar em relação às ações estratégicas que podem ser tomadas diante do cenário atual.

Para conhecer mais sobre essas opções, ou mesmo discutir ações mais alinhadas às suas necessidades, entre em contato conosco. A XVI Finance poderá auxiliar você a selecionar a melhor opção para o seu negócio.

Prof. Dr. Gleison Fonseca

Prof. Dr. Gleison Fonseca

Coordenador de Projetos
XVI Finance

Prof. Dr. Ulisses Rezende

Prof. Dr. Ulisses Rezende

Sócio Diretor
XVI Finance

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