O que levou à desaceleração dos movimentos de aquisição no setor de saúde?

Compreenda as motivações para as mudanças observadas e os impactos de elementos exógenos ao setor em sua consolidação.

Após um 2021 movimentado no mercado de M&A, com as aquisições nas vitrines do mercado de saúde, observamos um 2022 tímido em movimentos de consolidação do setor, tanto em número de operações, quanto em seu dimensionamento. 

O estudo de hoje visa compreender quais foram as motivações para as mudanças observadas e discutir os impactos de elementos exógenos ao setor em sua consolidação.

Consolidação do setor nos últimos anos

Em 2021, o setor de saúde apresentou mais de 50 M&A’s, que movimentaram valores próximos a R$ 15 bilhões. Em grande parte dos casos, os ativos envolvidos foram hospitais, clínicas e laboratórios, porém, as operadoras não ficaram de fora, como foi o caso da Sompo saúde, adquirida pela Sul América e da Hapvida, que adquiriu a HB Saúde.

Em 2022, as aquisições na saúde movimentaram cerca de R$ 1,5 bilhão, valor consideravelmente inferior ao apresentado em anos anteriores, assim, vimos as aquisições darem espaço às fusões, dentre os quais podemos destacar a junção dos grupos Notre Dame Intermédica e Hapvida, a fusão entre a rede D’Or e a SulAmérica e a união entre Fleury e Hermes Pardini.

O que explica a desaceleração do movimento de consolidação e a alteração percebida em seu perfil de execução?

A maior parte das aquisições realizadas no ano de 2021 partiram de empresas listadas na bolsa, sendo a captação junto ao mercado de capitais a força motriz deste movimento, com destaque para os IPO’s realizados entre os anos de 2018 e 2021, que possibilitaram, segundo os relatórios da ANBIMA, a captação de R$ 22,5 bilhões. No mesmo período, os chamados follow-on, ofertas de ações subsequentes aos IPO’s, possibilitaram ao setor a captação de mais R$ 18,2 bilhões.

Grande parte deste poderio adquirido pelos grupos do setor, foi utilizado para promoção do crescimento inorgânico, visando ganhos em competitividade, sinergias e busca por novos mercados o que deu origem ao tracionado movimento de consolidação observado nos últimos anos.

No ano passado, devido ao cenário inflacionário observado em todo o mundo, observamos a escalada das taxas de juros, atraindo os investidores para o mercado de renda fixa, o que reduziu o apetite do mercado por novas emissões, este movimento foi sentido em todo o mundo, porém, no Brasil, que detinha no período o maior juro real do mundo, este movimento foi sentido de forma ainda mais intensa. No ano de 2022, o país apresentou apenas um IPO e 18 ofertas subsequentes, nenhuma delas no setor da saúde.

Apesar dessa redução, o setor demonstrou resiliência com relação ao volume captado, que reduziu apenas 11%. Entretanto, no setor de saúde, a redução se deu de forma mais intensa, com uma queda de 54% nas captações. O gráfico abaixo ilustra as mudanças observadas no perfil e volume das captações registradas pelo setor nos últimos anos.

Como podemos observar, as captações realizadas em 2022 não contaram com emissões de ações ou notas promissórias, sendo as debêntures o mecanismo de captação mais relevante no ano, ainda que com redução no volume captado em relação a 2021. 

Uma novidade apresentada em 2022 foi a captação de 2,1 bilhões via notas comerciais, modalidade não explorada nos anos anteriores pelo setor, destes, R$ 100 milhões, foram captados pela Unimed Juiz de Fora com Assessoria da XVI Finance, iniciativa disruptiva no setor e a primeira realizada por uma cooperativa médica no Brasil.

As debêntures são títulos da dívida das empresas, sua principal diferença em relação às ações, é que sua posse não faz do investidor um sócio, mas sim um credor. Elas podem ser utilizadas para fins de crescimento inorgânico e ampliação das operações, entretanto, geralmente são utilizadas para o alongamento do endividamento. 

No ano passado, foi esse o principal motivador para a emissão de debêntures, ampliar a capacidade de gerenciamento do caixa das organizações. O grupo Hapvida foi o único a fugir a esta regra, destacando possíveis movimentos de M&A como um dos motivadores de suas emissões. As alterações observadas reduziram o poder de aquisição dos agentes, freando as operações de M&A e consolidação.

Somado a isto temos que o setor tem sofrido com a alta taxa de sinistralidade e aumento dos custos, e em 2022 os resultados da saúde suplementar, em principal das operadoras, foram particularmente afetados pelos altos índices de inflação médica, fazendo necessárias as alterações observadas no processo de decisão dos agentes. Contudo, a alta dos custos eleva a busca por alternativas, como a verticalização e ganhos de sinergia obtidos pelas operações de M&A que devem levar a novos movimentos de consolidação no setor.

A perspectiva, portanto, é de que com a redução das taxas de juros e findados os ajustes operacionais, tenhamos uma nova fase de aquisições, dando continuidade ao processo de consolidação.

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Fontes:

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/12/30/com-juro-alto-saude-troca-aquisicoes-por-fusoes-em-2022.ghtml

https://www.anbima.com.br/pt_br/informar/relatorios/mercado-de-capitais/boletim-de-mercado-de-capitais/boletim-de-mercado-de-capitais.htm

https://ri.athenasaude.com.br/wp-content/uploads/sites/617/2023/02/Fitch-Downgrades-Athenas-Rating-to-%E2%80%98Abra.pdf

https://www.moneytimes.com.br/dasa-prepara-emissao-de-r-2-bilhoes-em-debentures/

https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2022/04/14/fleury-vai-emitir-r700-milhoes-em-debentures.htm

https://www.moneytimes.com.br/kora-saude-krsa3-cai-6-apos-emissao-de-r-715-milhoes-em-debentures/

https://www.suno.com.br/noticias/hapvida-hapv3-emissao-debentures-lastro-cri/

https://einvestidor.estadao.com.br/investimentos/rede-dor-aprova-emissao-de-debentures/

Douglas Lima

Douglas Lima

Consultor na
XVI Finance

Prof. Dr. Ulisses Rezende

Prof. Dr. Ulisses Rezende

Sócio Diretor na
XVI Finance

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