Dois efeitos principais da crise econômica para a saúde suplementar

efeitos da crise no setor da saúde
Com a crise econômica desencadeada pela pandemia do coronavírus, o setor de saúde suplementar passa por testes de eficiência, e as oportunidades se evidenciam.

“Em crise eterna, Brasil perde a chance de ficar rico antes de ficar velho” (Exame 2020).

Após o encerramento da Convenção Nacional do Sistema Unimed na semana passada, decidi retomar com as minhas cartas semanais, com temas pertinentes ao nosso setor de Saúde Suplementar.

Atingimos recentemente a marca de 6,5 mil médicos e gestores que demonstraram interesse em receber nossas análises através da inscrição em newsletter. Você e os demais gestores são um ponto essencial em nossos estudos, uma vez que contribuem, e muito, com sugestões de temas, reflexões e conhecimento técnico. Agradeço muito o seu interesse em nossos conteúdos.

Nesta semana, quase todas as atenções estavam voltadas para as disputas presidenciais dos Estados Unidos. Porém, enquanto o mundo acompanha o desfecho das eleições norte americanas, não podemos negligenciar a situação brasileira e não nos atentar para os desdobramentos da nossa economia e política. Em nossa visão, da crise econômica, há dois grandes efeitos com repercussão no mercado de saúde suplementar para os quais devemos nos preparar.

Mas antes de falar dos impactos, de qual crise estamos falando?

Segundo as principais projeções, o Brasil apresentará uma queda no produto interno bruto (PIB) de cerca de 4,81% em 2020 (o PIB consiste em um indicador macroeconômico que representa toda a riqueza produzida no país). Para ilustrar uma comparação, nem mesmo nos difíceis anos 80 e nas crises enfrentadas durante o Governo Dilma presenciamos uma queda tão brusca e um impacto tão grande na economia. A queda do PIB já era algo esperado frente a grave crise sanitária gerada com a pandemia.

Desta crise inédita, decorrem dois efeitos que serão origem para outros problemas.

Efeito 1: Elevação da Dívida Pública Brasileira

As medidas tomadas pelo governo durante a pandemia, como os gastos com o sistema público de saúde e o auxílio emergencial, aceleraram a dívida pública brasileira que poderá atingir cerca de 100% do PIB.

A situação fiscal do país foi agravada devido a incompatibilidade entre os gastos para enfrentamento da pandemia e o crescimento da dívida brasileira. Atualmente o Brasil está endividado como a Argentina, mas gasta como o Chile.

Deste descontrole do endividamento, agravado pelo déficit fiscal, podem decorrer diversos outros fatores que impactarão a saúde suplementar. Abaixo destaco os principais:

  1. Desvalorização Cambial: Como boa parte dos equipamentos e das tecnologias são importadas, com o dólar alto, há uma redução na capacidade de investimento no setor e aumento dos custos com medicamentos, tecnologias e demais itens importados, pressionando a inflação de custos no setor;
  2. Redução do investimento público: Com o governo endividado, e com o teto de gastos, o país não terá condições de acompanhar a demanda assistencial pública. Com o SUS restringindo sua capacidade de investimento, haverá uma ampliação na demanda potencial para outras formas de atendimento;
  3. Elevação da inflação: Um resultado comum do aumento da dívida pública é a elevação da inflação. Seja pela incerteza causada nos mercados pelo cenário de insolvência ou caso o Estado se financie pela senhoriagem, emitindo moeda para pagar a dívida pública. Teremos uma economia fraca no grave cenário de estagflação. Além disso, sabemos do fantasma que a inflação é para o setor de saúde suplementar. Nos últimos 10 anos, a inflação do custo assistencial cresceu 5x acima do IPCA (Ver estudo: A evolução dos custos da saúde no Brasil).

Efeito 2: Crescimento do Desemprego

Há uma relação direta entre desemprego e beneficiários no setor. Já atingimos o recorde de 14,4%, o que representa 13,8 milhões de pessoas sem emprego.

Se 80% dos planos de saúde são empresariais (pagos com ou pela empresa), essa população desocupada representa um desafio inédito para o segmento.

Com a redução das medidas para proteção do emprego e isolamento social, o índice de desemprego pode continuar subindo. De acordo com as premissas estipuladas pela lei de Okun, teoria econômica que relaciona o PIB com a taxa de desemprego, poderíamos chegar a cerca de 19,8% de desemprego.

Ademais, olhando de uma forma mais minuciosa para estes dados, a crise atinge de maneira mais brusca a população de jovens, cujo desemprego é recorde e já está em cerca de 30% (Folha, 2020). Ressalto que os jovens (18 a 24 anos) são justamente aqueles que representam o menor custo assistencial, sendo essenciais para equilibrar a sinistralidade em uma carteira empresarial.

Compreende o dilema da equação para o setor?

De um lado temos demanda crescente, com população em crescimento, envelhecendo e com SUS enfraquecendo. Por outro lado, observamos uma população mais pobre (maior desemprego e menor renda), investimentos mais caros e a inflação dos custos pressionando o setor com força máxima.

Nestas circunstâncias, formamos o cenário ideal para:

  1. Ampliar os investimentos em busca de ganhos de escala (formação de grupos cada vez maiores) acelerando a consolidação do setor;
  2. Desenvolvimento de produtos populares;
  3. Surgimento e crescimento de muitas empresas de tecnologias (as healthtechs);
  4. Fortalecimento de novos modelos assistenciais, para medicina preventiva, integral e resolutiva.

Se nas crises surgem as maiores oportunidades, o Brasil está repleto delas!

Aprecie sem moderação.

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