Como as crises econômicas afetam o setor da saúde suplementar?

Crise na saúde
Operadoras reajustam valores para não perderem receitas com a queda de beneficiários. Com a consolidação do setor, a dinâmica deve mudar.

Como já foi amplamente divulgado e discutido, o Brasil vive uma de suas piores crises da história recente. Segundo dados do IBGE, o PIB¹ brasileiro retraiu em 2020 cerca de 4,1%. Os resultados são melhores do que se esperava no início da pandemia, mas como mostramos em nosso estudo histórico acerca das recessões, temos apenas dois episódios em que a queda em um único ano foi maior: a crise de endividamento de 81 e o confisco da poupança em 90.

Muito se discute nos noticiários a respeito dos impactos da recessão causada pela pandemia do COVID-19, mas, ao mesmo tempo, o leitor pode se perguntar: Como as crises econômicas influenciam o setor da saúde suplementar? A crise de 2020 tem alguma diferença em relação aos outros anos em que se observou recessão? São essas as respostas que buscaremos discutir nessa publicação.

Atividade Econômica x Receitas Assistenciais

Iniciaremos nossa análise histórica sobre os efeitos de crises econômicas no setor da saúde suplementar analisando a evolução de suas receitas com base nos dados disponíveis mais recentes da ANS:

Se analisarmos o total de contraprestações (receitas assistenciais) do setor, observaremos um crescimento constante. No entanto, como estamos tratando de um horizonte de tempo consideravelmente extenso, temos de levar em consideração que o valor de R$ 1 em 2007 não é o mesmo que R$ 1 em 2021. Por isso, eliminamos o efeito da inflação nas receitas para que possamos comparar adequadamente as receitas auferidas em cada ano.

Se plotamos em um gráfico a variação do Produto Interno Bruto brasileiro e a variação real das receitas das operadoras de saúde (OPS), notamos facilmente que estas movimentam-se em conjunto. Nos anos em que há recessão ou crescimento baixo da economia brasileira, nota-se um crescimento bem menor do que a média nas receitas, ainda que positivo. A correlação apresentada entre essas duas variáveis é de cerca de 70%.

Essas receitas podem ser decompostas em dois fatores diferentes: o crescimento de sua carteira e a variação no ticket médio praticado. Analisaremos, na sequência, estes dois indicadores.

Número de Beneficiários

A teoria macroeconômica da Lei de Okum relaciona o crescimento (ou recessão) de uma economia com o seu nível de desemprego e, como sabemos, 68,1% dos beneficiários do setor são do tipo coletivo empresarial. Isto é, possuem vínculo de planos de saúde por meio de seu empregador.

Dessa forma, analisaremos a relação da variação do número de trabalhadores celetistas (que é fortemente influenciado pelo nível de atividade econômica) com a variação no número de beneficiários totais do setor.

A relação entre essas duas variáveis também é direta e bastante alta, apresentando uma correlação próxima a 85%.

Essa alta correlação indica que, em tempos de redução da atividade econômica, o número de beneficiários também tende a cair e vice-versa.

Ticket Médio²

A variação da receita, que pode ser decomposta em variação do ticket médio e crescimento da carteira de beneficiários, apresentou crescimento positivo em todo período de análise, mesmo nos anos em que houve redução do número de beneficiários, portanto, é de se esperar que tenha ocorrido um crescimento do ticket médio. E os dados confirmam isso.

A correlação entre a variação no ticket médio e a variação do PIB brasileiro é bastante baixa, próxima a 26%. Isso também corrobora com o fato de os tickets médios elevarem-se mesmo em cenários de crise econômica e perda de beneficiários. A implicação disso é que o setor, nos anos de crise, sustentou o crescimento real de suas receitas via aumento de preços.

Essa constatação, por sua vez, nos fornece insights bastante valiosos: com o setor da saúde suplementar se tornando cada vez mais competitivo pela abertura ao capital estrangeiro desde 2015 e formação de grandes players de atuação nacional e operações fortemente verticalizadas, além do surgimento de novos modelos de negócios, o repasse de custos para os preços praticados se tornará cada vez mais difícil, principalmente para aquelas cujos tickets médios já estão acima dos concorrentes nacionais.

Assim, para se manterem econômica e financeiramente viáveis, as OPS precisarão, cada vez mais, desempenhar um controle de custos e despesas eficientes.

Este será o tema das próximas publicações.

Fontes: ANS | IBGE | CAGED

¹ Medida de tudo aquilo que foi produzido em uma economia no período de um ano

² Ticket médio deflacionado pelo IPCA

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