Como o setor da Saúde Suplementar investe no mercado financeiro?

As receitas financeiras são fundamentais para a sustentabilidade do Setor

Na última semana, a ANS divulgou os resultados financeiros do quarto trimestre de 2024. Os números continuam bastante animadores, demonstrando uma forte recuperação nos resultados operacionais e financeiros, com 71,17% das operadoras de saúde atuando com resultado positivo.

Dentre os destaques, observamos a redução da sinistralidade, baixo nível de endividamento e o volume recorde de aplicações financeiras, que atingiram a cifra total de R$ 122 bilhões pelo segmento.

Os resultados financeiros passaram a ser ainda mais relevantes ao longo dos últimos anos. Desde o terceiro trimestre de 2021, o resultado das aplicações financeiras é maior que o resultado das operações com o plano de saúde.

Gráfico 1: Evolução do Resultado Operacional x Resultado Financeira das Operadoras de Saúde

Fonte: ANS (4ºtri/24)

Em 5 anos, o montante aplicado saiu de R$ 71bi para R$ 115 bi (+72%), divididos entre aplicações livres e aplicações vinculadas.

Gráfico 2: Evolução das Aplicações Financeiras

Apesar da relevância dos montantes aplicados, muitas operadoras de saúde ainda não possuem uma estrutura profissional dedicada à gestão dos investimentos. Por exemplo: em 2023, diversas OPS apresentaram perdas significativas com aplicações financeiras, como o caso do prejuízo com aplicações no fundo da Infinity, Lojas Americanas e debêntures da Light (entre outros).

Neste sentido, a RN 518 estabelece as diretrizes para que as OPS de grande porte adotem medidas de controle de riscos, inclusive na esfera financeira, mediante a adoção de uma Política de Investimentos, Constituição de Comitê e Monitoramento ativo de riscos financeiros.

Diante a relevância do tema, resolvemos avaliar a estratégia de investimentos e o histórico de rentabilidade das aplicações financeiras do setor.

Fomos norteados pelas seguintes perguntas: Será que os resultados financeiros são maiores que o benchmark de rentabilidade da SELIC? Como será que o setor saúde investe? E como está distribuída a carteira de investimentos entre as modalidades de OPS?

Partindo da primeira avaliação, observamos que a rentabilidade das aplicações não supera a taxa Selic do período desde 2021, quando as taxas de juros voltaram a subir após a pandemia. Significa dizer que seria possível obter mais receitas financeiras sem adicionar mais risco ao portfólio.

Nos últimos 3 anos, a rentabilidade média geral das aplicações foi de 82,9% da SELIC no período.

Gráfico 3: Rentabilidade das Aplicações Financeiras das Operadoras de Saúde em comparação com a taxa Selic do período (% a.a)

No entanto, este resultado é bastante heterogêneo entre os grupos. Fazendo a abertura do desempenho por modalidade de OPS, analisamos a rentabilidade média das aplicações financeiras em comparação com a taxa Selic média anualizada do período.

Observamos que as OPS de Autogestão possuem a melhor rentabilidade na maior parte do período. Por outro lado, as do tipo Filantropia e Cooperativas Médicas são as que possuem o pior desempenho comparativo, conforme tabela a seguir:

Tabela 1: Retorno (%) em relação à Selic do Período por modalidade de Operadora

Considerando o desempenho pior das cooperativas médicas, fizemos um recorte para avaliar a estratégia de investimentos das cooperativas em relação às demais modalidades.

Dessa forma, selecionando o grupo das cooperativas para comparação do portfólio em relação ao mercado, avaliamos a distribuição dos investimentos, conforme a tabela comparativa a seguir.

Tabela 2. Distribuição do portfólio de investimentos das Cooperativas Médicas em Comparação com o Portfólio das Demais OPS.

Descrição Autogestão Cooperativa Médica Filantropia Medicina de Grupo Saúde suplementar Seguradora Especializada em Saúde
RF - Privados - Cotas de fundos26,73%36,29%22,22%68,06%41,05%37,05%
RF - Públicos - Cotas de fundos45,37%3,72%3,54%3,92%16,44%14,25%
RF - Públicos - Títulos de div. pública8,35%3,90%1,65%1,95%15,33%37,35%
RF - Privados - CDB/RDB5,86%25,79%39,82%8,28%9,99%1,84%
Depósitos jud. e fiscais3,09%13,53%4,66%8,19%7,05%4,63%
Outros - Outras aplicações5,38%3,57%16,53%2,38%2,93%0,64%
RF - Privados - Outros títulos0,82%5,10%1,33%0,22%2,34%2,90%
RF - CDB/RDB0,83%2,78%1,57%2,63%1,39%0,00%
Caixa0,13%2,35%3,28%2,43%1,26%0,43%
RF - Outros títulos0,76%1,31%1,09%0,98%0,69%0,00%
RF - Cotas de fundos2,13%0,13%0,00%0,77%0,67%0,01%
RV - Cotas de fundos0,24%1,18%3,99%0,03%0,57%0,60%
RV - Outros títulos0,04%0,15%0,10%0,02%0,14%0,27%
RF - Públicos - Outros títulos0,27%0,17%0,00%0,00%0,10%0,00%
Numerário em trânsito0,01%0,02%0,20%0,14%0,04%0,02%
Constata-se que as operadoras, de maneira geral, investem um pouco mais de 1/3 da carteira em cotas de fundos que possuem títulos privados (FIRF CP), como ocorre com a alocação na maioria dos fundos utilizados para aplicações vinculadas.
No entanto, o restante do setor possui uma participação muito maior em Títulos Públicos, seja via fundos ou via cota de fundos, somando cerca de 40% do portfólio x menos de 4% pelas Cooperativas.
Já as Cooperativas Médicas, além de apresentar volume maior de depósitos judiciais, apresenta 25,79% do portfólio alocado em títulos bancários, como são os CDBs e os RDCs. A relação é quase 4 vezes maior que a média restante do setor.
Conhecendo o mercado, talvez essa preferência por aplicações em ativos bancários pelas Cooperativas Médicas seja explicada pela relação com as cooperativas crédito e os pilares da intercooperação.
Entretanto, sabendo que os títulos públicos representam o menor nível de risco de crédito, (possuindo inclusive FPR igual a 0% conforme ANS), as Cooperativas Médicas assumem maior nível de risco, mas possuem retorno inferior à média do setor.

Entretanto, sabendo que os títulos públicos representam o menor nível de risco de crédito, (possuindo inclusive FPR igual a 0% conforme ANS), as Cooperativas Médicas assumem maior nível de risco, mas possuem retorno inferior à média do setor.

Dessa forma, é possível inferir que seria possível obter maiores retornos das aplicações financeiras para o setor, caso as demais operadoras reduzissem a participação em títulos públicos para aumentar alocação em produtos de maior nível de risco. Por outro lado, também seria possível reduzir o nível de risco das cooperativas, caso essas investissem mais em títulos públicos pós-fixados ou demais títulos/fundos e reduzissem a exposição em ativos bancários.

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Artigo com a Colaboração do gerente de inteligência de mercado José L. O. Martins e Research XVI Finance.

    Notas sobre a metodologia: 1) Dados até o 1º Tri/2024. Fonte ANS (2024). 2) Taxa Selic anualizada pela taxa do período; 3) Retorno das aplicações financeiras obtido pela razão entre as receitas financeiras e saldo das aplicações financeiras de curto e longo prazo; 4) As aplicações financeiras contemplam aplicações livres e vinculadas, conforme plano de contas da ANS para caixa: 121 | aplicações livres: 1222 e 1312 |; aplicações vinculadas: 1221 e 1311 | e depósitos judiciais: 1317 e todas as respectivas subcontas.

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