Passado, presente e futuro da saúde suplementar: perspectivas e tendências

Entenda as mudanças no mercado de saúde suplementar, com destaque para fusões, novos modelos de negócio e os desafios futuros.

No cenário atual, o setor de saúde suplementar no Brasil passa por mudanças significativas, com fusões de grandes operadoras e a entrada de novos modelos de negócio. Acompanhar essas tendências é essencial para entender o futuro desse mercado dinâmico.

Em 2019, nosso Diretor de Negócios, Prof. Dr. Adriel Branco, havia publicado o artigo “Qual o limite para a capacidade de investimentos da HAPVIDA?”. Em sua análise, comparou a consolidação do mercado de saúde suplementar à consolidação do mercado nacional de cervejas. Argumentou na época que a Hapvida poderia se tornar a Ambev do mercado de saúde. Menos de 2 anos depois, a companhia anunciou sua “fusão” com sua concorrente NotreDame Intermédica, em uma operação muito similar àquela que envolveu Brahma e Antártica ainda no século passado.

A fusão mais aguardada do ano

Mal havia começado 2021 e logo na segunda semana do mês o mercado recebeu a informação que as duas maiores operadoras individuais de planos de saúde avaliavam uma fusão, o Grupo Hapvida e o Grupo NotreDame Intermédica (GNDI). Menos de dois meses depois a fusão foi anunciada oficialmente, formando uma companhia com um valor de mercado de R$120 bilhões.

Com caixa reforçado, o novo grupo terá ainda mais recursos para continuar seu projeto de expansão nacional. Ademais, o fácil acesso à recursos de baixo custo, seja por meio do mercado de crédito ou do mercado de capitais (via novas emissões de ações e debêntures), potencializa ainda mais o plano de expansão. De acordo com o Presidente da Hapvida, Jorge Pinheiro Koren de Lima, em entrevista ao portal ‘seudinheiro’, os ganhos de sinergias com a fusão podem impactar os preços dos planos de saúde de forma positiva, via redução e sinistralidade e, com isso,  estes “podem ter um alcance maior”.

Assim como a Ambev fez nos anos seguintes a maior aquisição, a Hapvida não deverá parar suas movimentações de consolidação de mercado. Portanto, o que esperar do setor de saúde nos próximos anos?

Novos estreantes na bolsa

Embora as duas operadoras concentrem os holofotes das grandes mídias, outro grupo tem se fortalecido em modelo de negócio similar.

Nota-se o crescimento do Grupo Athena Saúde, cujos beneficiários estão concentrados principalmente nos estados do Espírito Santo, Piauí, Paraná e Maranhão. Atualmente com 532 mil beneficiários, a companhia surgiu a partir da junção de operadoras, hospitais e do fundo de investimentos do Pátria. Já possuindo 7 hospitais e 47 clínicas/pronto-atendimento, a Athena Saúde fez importantes aquisições no último ano.

No Maranhão, a Companhia adquiriu a maior operadora de saúde local, o Grupo Unihosp, que contém uma carteira com 40 mil beneficiários. Também adquiriu o Hospital do Coração de Natal, no Rio Grande do Norte. Para 2021, a Operadora pretende fazer sua oferta pública inicial de ações ainda no primeiro semestre, visando arrecadar 3 bilhões de reais para continuar realizando aquisições e verticalizando a sua operação, principalmente no Nordeste, região historicamente marcada pela forte presença da Hapvida.


O acesso ao mercado financeiro tem despertado interesse em cada vez mais empresas no setor, que buscam o IPO como forma de capitalização para investimento em expansão operacional.

A Rede D’Or São Luiz, maior grupo hospitalar privado do Brasil realizou sua oferta pública inicial de ações em 2020, e levantou cerca de 11,4 bilhões no maior IPO do ano na B3. A demanda pelas ações da empresa somou 40 bilhões, evidenciando o grande interesse dos investidores por empresas da área da saúde. Capitalizado, o grupo, que já vinha realizando diversas aquisições (apenas em 2020 foram 9, que custaram ao menos R$1,75 bilhões ao caixa da empresa), possui mais fôlego para seguir investindo na expansão de sua rede assistencial.


Ademais, com seu audacioso plano de expansão a empresa demonstrou estar investimento também no mercado de planos. Em fevereiro a companhia aumentou sua participação acionária na Qualicorp, corretora e administradora de benefícios com um investimento de R$600 milhões. Tal movimentação representa uma estratégia de também verticalização por parte do grupo hospitalar, que agora tem um maior controle de um dos principais distribuidores de planos de saúde no mercado. Destaca-se que a própria Qualicorp também realizou movimentações de mercado em 2020, com a aquisição da carteira da Mais Saúde, com 55 mil vidas.

A Rede D’Or apresentou no último trimestre de 2020 sua maior receita líquida da história, de cerca de R$ 4,17 bilhões. A tabela e os gráficos a seguir mostram as aquisições realizadas pelo grupo no ano passado e alguns indicadores financeiros/operacionais da companhia:


Vale o destaque também para as últimas duas movimentações o Grupo Dasa, uma das maiores redes de medicina diagnóstica do Brasil e da América Latina. A empresa, que desde 2014 é controlada pela família Bueno, fundadora da Amil, atualmente possui apenas 2,5% de suas ações são negociadas no mercado financeiro, mas planeja realizar um re-IPO com o objetivo de levantar até R$6 bilhões em ofertas exclusivamente primárias (quando os montantes captados são direcionados ao caixa da companhia, sem que ocorra venda de participação acionária dos atuais sócios).

Assim como as companhias já mencionadas, a Dasa também realizou recentes movimentações de mercado, como a aquisição do grupo hospitalar Leforte (São Paulo), o Instituto de Hematologia (São José do Rio Preto), do grupo Exame (Porto Alegre) e da prestadora de serviços médicos Nossa Senhora do Carmo e Vital (Rio de Janeiro).

Após o êxito da Rede D´or em suas ofertas de ações, neste ano poderemos ver outros grupos hospitalares abrindo capital na bolsa de valores. Destaque para Rede Mater Dei, Hospital Care e Kora Saúde. Essas companhias somam juntas quase 3.000 leitos e R$3 bilhões de faturamento. Os três grupos buscam com a abertura de capital, captar bilhões de reais para investir em construção e aquisições de hospitais pelo Brasil.


Novos modelos de negócio

Ainda que essas aberturas de capitais chamem bastante nossa atenção dentro do setor de saúde suplementar (e não à toa, dado que tais movimentações envolvem cifras bilionárias e colocam as empresas em posições de evidência), outros inovadores negócios no setor chamam a atenção. Com promessas de planos de baixo custo e baixo reajuste, estas empresas desafiam o modelo tradicional de operação de planos de saúde

1. Sami Saúde

Fundada em 2018 inicialmente como uma healthtech, a Sami Saúde surgiu com o intuito de auxiliar as operadoras de saúde a terem mais eficiência em suas operações por meio da tecnologia de dados. Contudo, a empresa recebeu, recentemente, um aporte de 86 milhões de reais e, com isso, teve seu registro aprovado para virar operadora de saúde.

Agora, a Sami quer seguir tendo a tecnologia como sua maior aliada, apostando na telemedicina e acompanhando seus beneficiários por meio de planos terapêuticos e aplicativos. Para a companhia, o uso de dados históricos dos pacientes é essencial para promover um melhor atendimento, bem como para melhorar a medicina de prevenção. Por fim, a agora operadora quer ter um modelo de negócio onde o prestador de serviço é remunerado pela qualidade do serviço (“value-based healthcare”), e não apenas pela quantidade de procedimentos realizados.


2. QSaúde:

Um outro modelo recente é o da QSaúde. Fundada pelo ex-presidente da Qualicorp, José Periperi Filho, a empresa recebeu investimentos de 120 milhões de reais e, recentemente, também virou operadora de planos de saúde. Com foco no mercado de saúde suplementar na cidade de São Paulo, a operadora quer concentrar suas atividades em planos individuais, dado o crescimento no número de trabalhadores autônomos. Assim como a Sami, a QSaúde também realizará investimentos robustos em tecnologia, fornecendo consultas online 24 horas por dia em seu aplicativo. Ademais, a medicina preventiva também será priorizada pela operadora, que almeja oferecer um tratamento humanizado e personalizado

3. Cartão de Todos:

Diferentemente das organizações anteriores que buscam inovação no modelo assistencial, a Cartão de Todos busca alterar o modelo tradicional de comercialização e de acesso a consultas e exames. Apesar de não ser uma operadora, o negócio promete o acesso de baixo custo aos serviços de saúde, focando na população de média e baixa renda, que passa a ter acesso a serviços médicos na modalidade presencial e virtual. O modelo também permite descontos em farmácias e outros parceiros.

Perspectivas

As previsões iniciais de queda de beneficiários em 2020 não se concretizaram. O setor cresceu mais de 1% no ano e os indicadores financeiro das grandes operadoras apresentaram melhora. Entretanto, os próximos meses ainda são incógnitas para as operadoras menores, que viram a sinistralidade aumentar nos últimos meses como mostra o Boletim ANS. O otimismo de retomada econômica prevista para 2021 retornou ao estado de imprevisibilidade com a nova onda de contaminação de covid-19 (ainda maior que a primeira).

O cenário atual conta também com novas variáveis, como as medidas mais restritivas anunciadas por alguns estados e municípios, e os meses sem auxílio emergencial que no ano passado elevou a renda de famílias mais pobres. A retomada da economia e consequentemente a queda do desemprego dependem da efetividade da vacinação da população.

Independente da imprevisibilidade macroeconômica, as operações de fusões e aquisições, e a consolidação de mercado deve continuar. Empresas eficientes demonstram resiliência em tempos de crise, e se aproveitam das oportunidades geradas por ela.

No setor, vimos as grandes operadoras verticalizadas com acúmulo de caixa durante a pandemia, realizando juntas mais de uma aquisição por mês. Os grupos hospitalares, mesmo no centro da crise epidemiológica, mantiveram seus investimentos em aquisições buscando uma rede cada vez mais ampla e integrada. Dessa maneira, também fica clara a importância que o mercado financeiro tem para o processo de consolidação do mercado, dado o fácil acesso a recursos para estes investimentos.

O ambiente competitivo e dinâmico construído no setor nos últimos anos se mostrou o cenário perfeito para entrada de novos players, com modelos de negócios inovadores. A demanda por investimentos em gestão de dados e tecnologia ficou ainda mais latente no último ano e companhias que não se adaptarem a tempo serão absolvidas.

O modelo tradicional de gestão em saúde já está sendo repensado e permanecerá no setor quem combinar gestão, eficiência, tecnologia e acesso a capital.

Texto produzido pelo analista Vitor Oliveira, com apoio do Diretor de Projetos Prof. Dr. Ulisses Silva e o consultor Eduardo Kfouri Forero.

O setor de saúde suplementar no Brasil está em rápida transformação, impulsionado por fusões entre grandes operadoras e a emergência de novos modelos de negócio. Empresas como Hapvida, NotreDame Intermédica, e Rede D’Or estão liderando essa consolidação, enquanto novas operadoras como Sami Saúde e QSaúde trazem inovação tecnológica e foco em medicina preventiva. O mercado financeiro desempenha um papel crucial, oferecendo recursos para expansões. No futuro, espera-se que a combinação de tecnologia, gestão eficiente e acesso ao capital continue a moldar o setor.

Saiba mais sobre

Qual é a principal tendência atual no setor de saúde suplementar?
A principal tendência é a consolidação do mercado, com fusões entre grandes operadoras.

Quais empresas lideram o processo de fusões no setor?
Hapvida, NotreDame Intermédica e Rede D’Or estão à frente nas fusões.

O que diferencia as novas operadoras como Sami Saúde e QSaúde?
Elas se destacam pelo uso intensivo de tecnologia e foco em medicina preventiva.

Como o mercado financeiro influencia o setor de saúde suplementar?
Ele fornece recursos essenciais para expansões e aquisições de novas empresas.

Quais são os novos modelos de negócio emergentes no setor?
Modelos baseados em baixo custo e tecnologia, como os adotados por Sami Saúde e QSaúde.

Qual é o impacto das fusões no custo dos planos de saúde?
As fusões podem reduzir a sinistralidade, potencialmente diminuindo os preços dos planos.

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