De crise sanitária à crise econômica, a pandemia do novo coronavírus causou instabilidade a nível global, gerando impactos sociais, econômicos, culturais e políticos. Tais impactos refletiram em diferentes setores, inclusive na saúde suplementar. A pandemia enfatizou a importância e necessidade de investimento em gestão, planejamento e poder de reação.
Em março de 2020, publicamos o plano de gestão de crise para operadoras de saúde no qual destacamos algumas ações a serem seguidas pelas operadoras para superar a crise do Covid-19 em um momento de tanta incerteza.
Nosso plano se pautava na busca da minimização de impactos para beneficiários, operadoras e cooperados. Sugerimos a realização de análises prévias, a criação de ações e o estabelecimento de gatilhos para o start dessas ações. Identificamos 6 grandes áreas para atuação: beneficiários (orientação e informação), pessoas (redução de riscos à saúde), financeiro (sustentabilidade), mercado (impactos na carteira e inadimplência), assistencial (garantia de atendimento) e cooperados (apoio pela redução de demanda).
Hoje, após quase um ano dessa publicação, percebemos ainda mais a importância da gestão de crises e estratégia dentro das operadoras de saúde. Identificar mudanças de cenário com antecedência e preparar-se previamente permite às operadoras maior velocidade de reação e maior chance de minimizar impactos.
O fato é que a pandemia do Covid-19 acelerou as mudanças no mercado de saúde suplementar. Alguns temas de destaque são: a consolidação do mercado (operadoras e prestadores), novos modelos de negócios, novos produtos, maior utilização da tecnologia e a exigência de eficiência em custos. Nessa publicação, vamos explorar alguns destes pontos.
Principais tendências para o setor
A tendência é que o mercado de planos de saúde ganhe um grande impulso, intensificando ainda mais o processo de consolidação do setor por meio de fusões e aquisições, como acompanhamos recentemente com Hapvida e Intermédica. Saiba mais sobre a fusão entre Hapvida e NotreDame.
Ao longo dos meses mais críticos, observamos muitas oscilações nos números de beneficiários. Com carteiras majoritariamente compostas por planos Coletivos Empresariais, o aumento do desemprego impactou de maneira direta na perda de beneficiários em todas as regiões do país, chegando a um déficit de mais de 368mil vidas entre os meses de março e junho.
Gráfico mostra o saldo do Caged no Brasil (2020)
Em julho, com o início da flexibilização da quarentena, tivemos uma reversão na curva de empregos e o saldo voltou a ficar positivo, conforme vemos no gráfico acima. Esse fato também influenciou na retomada de beneficiários, o que garantiu uma variação positiva para 2020 em quase todas as regiões do país, com exceção do Sul e Nordeste – conforme podemos verificar no gráfico a seguir.
Gráfico mostra variação geral de beneficiários por região no país (2020)
Principais tendências para o setor
Para além da pandemia, a tendência é de uma maior consciência sobre a relevância da medicina preventiva e a importância da ampliação do acesso aos planos de saúde. No geral, nos preocupamos com a revisão do carro a cada 10 mil quilômetros e em ter um seguro contra colisões. Contudo, realizar um check-up anual e possuir um plano de saúde ainda não é possível a toda a população e parte disso é explicado pelos preços praticados. A demanda por operadoras com produtos de atenção primária à saúde (APS) bem delineados deverá crescer justamente por incluir esses dois pontos, medicina preventiva e menor preço.
A APS pode promover uma melhora considerável na qualidade de vida da população, uma vez que os pacientes têm acesso a consultas médicas e check-ups que auxiliam na prevenção de doenças e no diagnóstico precoce de complicações, aumentando as chances de obter um tratamento mais efetivo para esses casos.
Adesão de novas tecnologias
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “tornou-se cada vez mais claro que a universalização da cobertura em saúde não pode ser conquistada sem o suporte da saúde digital”. A telemedicina possibilita o atendimento e monitoramento de pacientes a distância, a troca de experiência entre médicos quanto aos diagnósticos, consultas e cirurgias e uma oportunidade para desenvolvimento de bancos de dados.
Dessa forma, soluções inovadoras como a adesão a telemedicina passam a ganhar destaque, apontando para o incentivo do uso e desenvolvimento de novas tecnologias, mostrando que parte da atuação pode se manter de forma não-presencial, contribuindo de maneira positiva para a manutenção do controle de custos.
Incertezas e expectativas
A pandemia evidenciou e intensificou a fragilidade da situação econômica brasileira. O cenário fiscal se agravou em decorrência dos esforços empregados nos programas de proteção ao emprego e auxílios à população vulnerável.
O agravamento do cenário fiscal pode ser traduzido em aumento de risco percebido pelos agentes econômicos, o que pressiona para elevação do câmbio e da inflação. Dessa forma, espera-se a manutenção do dólar a níveis elevados e com volatilidade considerável, o que encarece o investimento em equipamentos importados (como ressonâncias magnéticas, por exemplo) e elevação da taxa de juros básica, o que encarece a tomada de crédito para investimento e consumo.
Além disso, a pressão inflacionária torna ainda mais importante a gestão e controle de custos por parte das operadoras de saúde, como já mostramos em estudo publicado em nosso blog.
Ademais, de acordo com o último Relatório Focus do Banco Central do Brasil, espera-se um crescimento de 3,5% para o PIB brasileiro em 2021, não sendo suficiente para recuperar a queda de 2020. Como evidenciado pelo gráfico a seguir, o nível de renda do país ao final de 2021 será pouco superior ao de 2011, após a década marcada pelas crises econômicas.
PIB projetado Pré-Pandemia e Projeção Atual
2011 = 100
A retomada definitiva do crescimento econômico no Brasil passa necessariamente por pontos que valem ser destacados:
- A eficiência e celeridade da vacinação, possibilitando a retomada total das atividades econômicas no país;
- Aprovação da reforma administrativa, modernizando o setor público do país e tornando o orçamento mais eficiente;
- Aprovação da reforma tributária, eliminando distorções econômicas, reduzindo a complexidade do sistema tributário brasileiro e promovendo maior eficiência.
Não podemos negar o legado da pandemia. O avanço da tecnologia e a consolidação do setor já está acontecendo. Novas linhas de pensamentos alinhadas a uma governança corporativa mais estruturada e competente podem garantir um maior preparo para que as empresas do setor de saúde possam responder de maneira mais rápida a possíveis crises. Saiba mais sobre 5 formas para tornar uma cooperativa mais ágil.
Texto realizado pela analista Eduarda Deungaro com auxílio do Diretor de Projetos Prof. Dr. Ulisses Rezende
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