No segundo trimestre de 2023, as operadoras de saúde no Brasil continuam a enfrentar desafios significativos, com resultados financeiros que indicam um cenário ainda preocupante. Apesar de algumas melhorias, a sustentabilidade do setor permanece uma questão crucial.
Por mais um trimestre o resultado operacional das operadoras de saúde apresentou déficit. No acumulado do 1º semestre do ano, o prejuízo foi de R$ 4,3 bilhões. Destaque para as seguradoras, que lideraram as perdas com R$ 1,45 bilhões de prejuízo. Apesar do destaque, na análise geral, todas as modalidades apresentaram prejuízo no período.
A análise individual mostra que apenas 52,45% das operadoras apresentaram resultado operacional positivo. Este desempenho demonstra melhora do cenário em relação ao 1º semestre de 2022, contudo, o resultado ainda reflete a necessidade de ações para sanar problemas do setor.
Entre os problemas que justificam o momento atual das operadoras de planos de saúde, estão:
- O aumento da utilização dos recursos pelos beneficiários;
- A flexibilização do rol de procedimentos;
- O aumentos dos custos de materiais, medicamentos e OPME;
- O aumento da utilização de medicamentos de alto custo; as fraudes;
- Os desperdícios e ineficiências na operação;
- Os problemas de gestão;
- Os conflitos entre operadora e rede;
- A dificuldade de reajustes de planos e o downgrade para planos de menor ticket por beneficiário.
Com relação aos conflitos entre operadora e rede, a Folha de São Paulo¹ publicou reportagem na qual analisou-se o prazo médio de recebimento de faturas de uma amostra de hospitais da ANAHP, com registro de aumento do prazo médio de 70 dias para 120 dias, bem como aumento da taxa média de glosas, historicamente próxima a 3,5% e atualmente alcançando taxas próximas a 9% para o ano de 2023.
As justificativas para os resultados são inúmeras, conforme citado anteriormente. Já a conclusão das análises é uma só: há algo de errado no setor.
Há esperança? Sim, mas ainda é cedo para conclusões.
O resultado ainda ruim do setor no 1º semestre esconde algumas melhorias que foram alcançadas após um período crítico vivido em 2022. A sinistralidade do 1° semestre de 2023 apresentou redução de 0,9 p.p. em relação ao 1º semestre de 2022, mas está em 87,9%, número ainda considerado elevado.
Apesar da redução geral da sinistralidade, na análise individual por modalidade foi verificado aumento da sinistralidade para os grupos das Autogestões (de 92% para 93,6%) e das Seguradoras (de 91,9% para 92,9%), reforçando a necessidade de atenção em relação a melhora geral dos dados.
O índice combinado ampliado², que avalia de maneira global os custos e despesas em relação aos diferentes tipos de receitas, nos permite uma visão melhor do quão próximo do limite as operadoras caminham. Esse índice atingiu 96,4% no 2º Trimestre, uma redução de 1,8 p.p., resultado positivo, porém, ainda considerado cedo para que possamos afirmar ser uma tendência contínua de melhoria do setor.
Ao analisar o mesmo indicador por modalidade de operadora, encontramos novamente reduções generalizadas, exceto para as seguradoras, com crescimento de +1.9 p.p.
O que salva as operadoras? Os resultados patrimoniais e financeiros
O resultado líquido positivo obtido pelo setor no 1º semestre de 2023 é originário das receitas patrimoniais e financeiras. No acumulado dos primeiros meses do ano, o somatório dessas receitas atingiu R$ 6,4 bilhões, revertendo o resultado operacional negativo e gerando um lucro líquido de R$ 1,46 bilhão.
Apesar de positivo, esse dado preocupa pelas seguintes razões:
1 – A operação dos planos de saúde não tem se mostrado sustentável trimestre após trimestre, registrando saldos negativos;
2 – Há uma tendência de redução da taxa Selic que irá diminuir a rentabilidade dessas aplicações financeiras ao longo dos anos. Portanto, a dependência desses resultados para a sustentação das operadoras é uma estratégia arriscada.
Por fim, devemos ver o lado positivo do cenário atual:
1 – Podemos estar vislumbrando o início, mesmo que tímido, de um cenário de redução da sinistralidade;
2 – Para as operadoras que são sustentáveis, que geram resultados operacionais positivos e possuem caixa, o cenário se demonstra ideal para aquisições, incorporações e expansões.
Por fim, destacamos que a carteira de beneficiários corresponde a principal fonte de valor para o setor de saúde por ser a originadora de todos os outros serviços oferecidos. Ou seja, dada a dificuldade de geração de resultados por meio da atividade de planos de saúde, podemos pensar em alternativas de geração de novas receitas a partir de outros serviços relacionados ao setor.
Neste estudo foram avaliadas as modalidades de autogestão, cooperativa médica, filantropia, medicina de grupo e seguradora especializada em saúde.
Na XVI Finance temos sido bastante demandados por projetos de turnaround de operadoras de saúde. Neste tipo de projeto, realizamos um amplo diagnóstico das receitas, custos, despesas, fluxo de caixa, endividamento e do desempenho operacional para a criação de planos de ações por uma equipe especializada de médicos e executivos com ampla atuação na saúde suplementar. Todo esse processo tem o objetivo de gerar alívios de caixa imediatos e recuperar os resultados operacionais das operadoras e hospitais.
Em nossa próxima publicação, iremos explorar com maiores detalhes os impactos dos resultados patrimoniais e financeiros sobre as operadoras de saúde.
¹Hospitais registram atraso bilionário de pagamento por planos de saúde. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/09/hospitais-registram-atraso-bilionario-de-pagamento-por-planos-de-saude.shtml
²Indice Combinado Ampliado: avalia os custos assistenciais, despesas administrativas, comerciais e financeiras em relação as receitas com planos de saúde, administrativas e receitas financeiras, incluindo os valores absolutos das contraprestações de corresponsabilidade cedida
s operadoras de saúde brasileiras enfrentaram um cenário difícil no segundo trimestre de 2023, com déficits operacionais expressivos. Embora a sinistralidade tenha caído levemente, a sustentabilidade do setor ainda é preocupante. A dependência de receitas financeiras e patrimoniais para compensar os prejuízos operacionais acende um alerta, especialmente com a perspectiva de queda na taxa Selic. Apesar das dificuldades, algumas melhorias podem sinalizar um início de recuperação, mas ainda é cedo para conclusões definitivas.
Saiba mais sobre
Quais foram os principais resultados financeiros do 2º trimestre de 2023 para as operadoras de saúde?
As operadoras enfrentaram um déficit operacional acumulado de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre.
O que causou o aumento do prazo médio de pagamento aos hospitais?
Houve um aumento no prazo médio de 70 para 120 dias, com uma elevação das taxas de glosa para cerca de 9%.
Qual foi o impacto da sinistralidade no período?
A sinistralidade reduziu-se em 0,9 p.p., mas ainda permanece alta em 87,9%.
Como as receitas financeiras influenciaram os resultados?
As receitas patrimoniais e financeiras reverteram o déficit operacional, gerando um lucro líquido de R$ 1,46 bilhão.
Por que a sustentabilidade do setor é preocupante?
A dependência das receitas financeiras, que podem diminuir com a queda da Selic, torna o cenário instável.
Quais são as perspectivas para o futuro das operadoras?
Apesar de alguns sinais de melhora, a sustentabilidade e a viabilidade a longo prazo do setor ainda são incertas.
O que você achou disso?
Clique nas estrelas
Média da classificação 4.8 / 5. Número de votos: 18
Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.
Lamentamos que este post não tenha sido útil para você!
Vamos melhorar este post!
Diga-nos, como podemos melhorar este post?