No cenário atual, os custos com saúde no Brasil vêm crescendo em um ritmo alarmante, especialmente quando comparamos a inflação médica com outros indicadores econômicos. Como operadora de saúde, sei que a sustentabilidade desse setor depende de uma análise criteriosa desses custos e da adoção de estratégias que possam equilibrar as despesas sem comprometer a qualidade dos serviços oferecidos.
“Custos é como unha; tem de cortar sempre”. Beto Sicupira, no livro o “Sonho Grande”.
A famosa frase sobre o corte de custos destaca a cultura empresarial orientada à eficiência máxima e obsessão por cortes frequentes, características marcantes no modelo de atuação da AMBEV e que teriam proporcionado todo o crescimento da empresa.
Por outro lado, os não adeptos de controle de custos argumentam que a orientação para Liderança em Custos seria apenas uma, dentre várias estratégias de competição. De fato, os modelos competitivos destacam mais alternativas.
Em uma das teorias mais difundidas, o professor Michael Porter em seu livro “Estratégias Competitivas” de 1980 já apresentava as estratégias de Liderança em Custos, Diferenciação e Foco, retratadas na imagem abaixo:
Entretanto, quando o preço torna um produto inacessível, não há diferenciação e foco que possam conquistar o cliente. Nem tudo que é bom deve ser caro, nem tudo que é caro é melhor. Algo pode ser caro e ruim.
A diferença no preço pode simplesmente representar o repasse do desperdício e não uma qualidade ou posicionamento diferente.
Neste contexto, a liderança em custos passa a dominar o mercado e com relativa facilidade.
…Justamente neste ponto retornamos para a nossa reflexão sobre saúde suplementar e o problema dos custos para as operadoras de saúde.
Os dados de agosto/20 divulgados pela ANS indicam a retomada da sinistralidade após 3 meses de sinistralidade inferior a 70% (Veja o Boletim COVID-19 da ANS):
Dado esse sinal de retomada da sinistralidade, com a demanda represada e assistência reprimida, qual será movimento de custos no setor? E por que os preços na saúde podem inviabilizar a sustentabilidade de uma Operadora?
Deveremos realmente focar no controle de custos para competir?
Vamos começar entendendo o problema dos custos na saúde. Nos últimos 10 anos, enquanto a inflação do país, medida oficialmente pelo IPCA, cresceu 78%, os preços dos planos de saúde, cujos reajustes para Pessoa Física são autorizados pela ANS, cresceram o dobro no período (156,47%).
Ou seja, os planos passaram a representar fatia maior no orçamento familiar. Embora, um plano de saúde tenha sido apontado como o 3° maior desejo da população (atrás apenas da casa própria e educação, veja no link), para muitos, este desejo se tornou inacessível.
Os planos de saúde ganharam muito dinheiro então?… Na verdade, não.
Os custos para os planos de saúde cresceram ainda mais, reduzindo as margens das operadoras. O impacto do VCHM, que representa a variação do Custo Médico Médico-Hospitalar, foi ainda maior com alta de 322% no período.
Observe a composição dos principais indicadores de inflação utilizados. Note como por mais alto que seja o reajuste da ANS (tal como os incríveis reajustes acima de 13% entre os anos de 2015 a 2017), o custo da saúde e da inflação para as Operadoras de Saúde é muito maior.
Fica evidente que as Operadoras não conseguem repassar seus custos aos consumidores, por dois motivos: I) A ANS não permite, com reajustes menores e II) o mais importante: a população não consegue acompanhar a elevação dos preços, pois a inflação do IPCA é muito menor.
Por isso, os principais efeitos foram: (1) no aumento da sinistralidade, (2) redução das margens, (3) redução do número de beneficiários e (4) drástica redução do número de operadoras ativas, tal como exposto abaixo, refletindo a consolidação do setor.
A solução seria aumentar os preços dos planos para compensar a inflação médica? Novamente, a solução não é tão simples e nem poderia ser praticada, ainda que permitido pela ANS. Veja a diferença entre a inflação do IPCA e demais indicadores de custos e inflação.
A menor inflação do mercado é a do índice oficial (IPCA). Normalmente o salário nem consegue acompanhar a inflação oficial e o brasileiro é pressionado por todos os lados. Até mesmo o aluguel (que cresce pelo IGP-M) tem ocupado mais espaço no orçamento familiar.
Sem o controle das contas públicas e tantas outras reformas governamentais importantes, deveremos continuar vivendo cenários altamente inflacionários. Portanto, para os próximos 10 anos, ou controlamos os custos na saúde ou não restará o que controlar.
É verdade que sobrevivemos até aqui, mas como disse Pirro, em sua histórica batalha: “Outra vitória como essa e estaremos perdidos” (Pirro de Épiro 279 A.C)!
Os próximos 10 anos, certamente precisam ser diferentes!
Um grande abraço.
PS: Texto realizado pelo Diretor de Negócios Prof. Dr. Adriel Branco, com apoio do analista macroeconômico Adriano Braga.
Disclaimer: Todas as análises foram realizadas com informações públicas.
Nos últimos anos, os custos na saúde no Brasil têm crescido de forma acelerada, superando a inflação oficial. Isso tem afetado significativamente as operadoras de planos de saúde, que enfrentam desafios como aumento da sinistralidade, margens reduzidas e uma crescente dificuldade em repassar esses custos aos consumidores. Para garantir a sustentabilidade do setor, é essencial adotar estratégias eficientes de controle de custos, evitando que o preço dos planos se torne inviável para grande parte da população.
Saiba mais sobre
Por que os custos na saúde no Brasil estão aumentando?
Os custos estão aumentando devido à inflação médica e hospitalar, que cresce a um ritmo superior ao da inflação geral.
Como a alta dos custos impacta as operadoras de saúde?
Impacta negativamente, com aumento da sinistralidade e redução das margens de lucro, além de dificultar o repasse de custos aos consumidores.
Quais são os principais indicadores de inflação relacionados à saúde?
Os principais indicadores são o IPCA, que mede a inflação geral, e o VCHM, que mede a variação dos custos médicos hospitalares.
O que é sinistralidade e por que ela é importante?
Sinistralidade é a relação entre as despesas assistenciais e a receita dos planos de saúde. Seu aumento indica maior uso dos serviços, o que pressiona os custos.
Como a ANS influencia o reajuste dos planos de saúde?
A ANS regula os reajustes para planos de saúde individuais, limitando o quanto as operadoras podem repassar o aumento dos custos.
Quais são as possíveis soluções para controlar os custos na saúde?
As soluções incluem maior eficiência na gestão de custos, adoção de tecnologias que reduzem despesas e a revisão das políticas de reajuste de preços.
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