Eu estou acompanhando de perto o desempenho financeiro das Unimeds ao longo dos anos. Em 2019, essas cooperativas enfrentaram alguns desafios significativos, com variações nas margens operacionais e um cenário econômico em mudança. Vamos explorar juntos como cada grupo e estado se saiu e o que podemos esperar para os próximos anos.
No dia 18 de junho de 2020, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgou as demonstrações financeiras relativas ao fechamento do ano de 2019. Diante disso, nós, da XVI Finance, fizemos uma análise com as principais variações nos resultados das cooperativas de saúde.
Conforme havíamos demonstrado na série “O ano das Operadoras de Saúde”, no ano de 2018 o setor de saúde suplementar obteve um dos melhores desempenhos financeiros, principalmente para as cooperativas de saúde que apresentaram resultados positivos, em quase todo o Brasil.
O ano de 2019, no entanto, foi de resultados menores para as Unimeds, que tiveram, em geral, uma redução em suas margens operacionais e líquidas. Houve também um pequeno aumento nos custos operacionais de quase meio ponto percentual na utilização, indicador que trata da sinistralidade considerando os custos e receitas do intercâmbio habitual.
Perfil Financeiro do Sistema Unimed em 2019:
Os indicadores apresentados no presente estudo foram extraídos das informações públicas disponibilizadas pela ANS e calculados considerando as médias dos grupos descritos. As fórmulas de cálculo dos indicadores constam ao final do texto.
Algumas operadoras podem apresentar margens ebitdas negativas em virtude de práticas de retenção de pró-rata ou de constituição de fundos de reservas captados via produção médica. Nestes casos, a sinistralidade obtida junto à ANS será maior do que a efetivamente realizada e pode alterar a análise dos dados. Ressaltamos que todo o estudo é baseado na visão externa com dados exclusivos da ANS, disponíveis ao mercado, sem a considerar ajustes eventuais específicos.
Análise das Unimeds por Grupos
Classificamos as operados em 10 grupos (decis) de acordo com suas receitas operacionais (da menor para a maior). Essas receitas são a soma das contraprestações líquidas com as demais receitas operacionais, como atendimentos particulares, intercâmbio eventual e demais receitas dispostas na conta número 33.
É possível verificar que os resultados operacionais (margem EBITDA) em quase todos os casos tiveram redução, sendo, em geral, as Unimeds de menor porte mais afetadas. Apenas o 5° decil, formado por Unimeds de médio porte não tiveram redução de seus resultados operacionais, mantendo-se estáveis em relação a 2018.
Margem EBITDA do Sistema Unimed por Decil:
Apesar da redução dos resultados operacionais, as despesas administrativas, comerciais e financeiras mantiveram níveis semelhantes aos de 2018. Destaca-se que as despesas administrativas, que possuem maior impacto nos resultados líquidos, sofreram maiores aumentos apenas no 1º decil e maiores reduções apenas no 2º decil.
Outro ponto relevante é a identificação de ganhos de escala das cooperativas de maior porte em relação as de menor porte. Quanto maior a operadora, menor é a participação das despesas administrativas em relação as receitas operacionais, observe a coluna 2019 na tabela Variação das Despesas Administrativas. Tratamos mais afundo desse tema em outro post de nosso blog.
Margem EBITDA do Sistema Unimed por Decil:
Houve manutenção dos níveis de utilização das cooperativas em geral, porém, no caso dos decis 2, 4, 7 e 8, os indicadores apresentaram aumento, em maiores níveis nos três primeiros.
Utilização das Cooperativas de Saúde por Decil:
Isso se reflete nas sobras líquidas das cooperativas, que também reduziram em quase todos os casos, com exceção do 5° decil. A tabela seguinte mostra que as operadoras que sofreram maiores reduções das margens líquidas foram as do 1º, 2º, 4º e 7º decis, sendo que as últimas três mostraram aumento na utilização, enquanto o primeiro decil teve, em maior parte, os impactos do aumento de despesas administrativas.
Margem Líquida das Cooperativas de Saúde por Decil:
Para uma melhor explicação da metodologia de divisão por decis, basta clicar aqui.
Análise das Unimeds por Estados
Ao analisarmos as cooperativas de saúde por Estado, agrupando as singulares de cada estado e calculando a média de seus indicadores, encontramos resultados similares aos anteriores: em geral houve decrescimento dos resultados operacionais, mantendo-se em boa parte, positivos.
Destaque positivo para 5 estados que cresceram suas margens EBITDA:
- Ceará: aumento de 1,92 p.p.;
- Paraíba: aumento de 0,91 p.p.;
- Santa Catarina: aumento de 0,86 p.p.;
- Pará e Maranhão também mostraram crescimento.
Olhando para 2020 e 2021
O ano de 2020 será atípico para as operadoras de saúde. A suspensão dos procedimentos eletivos, de maneira geral, reduziu a sinistralidade do setor no primeiro semestre. Além disso, não ocorreram grandes movimentos de queda de carteiras e inadimplência. Com isso as cooperativas ganharam um fôlego financeiro no primeiro semestre do ano.
No segundo semestre, é possível que os procedimentos eletivos represados, além da utilização natural, causem aumento considerável dos custos para as cooperativas.
Além disso, os efeitos da crise econômica impactam no aumento do desemprego, conforme demonstra o gráfico a seguir, podendo refletir em maior inadimplência e redução do mercado potencial.
Além disso, as grandes operadoras de grupo permanecem em seus movimentos de consolidação de mercado, com aquisições de planos de saúde, hospitais e outros recursos próprios. Na última semana, por exemplo, o Grupo NotreDame anunciou a compra do controle do Grupo Santa Mônica, que possui serviços próprios de diagnóstico por imagem e Hospital e outros serviços, além de uma carteira de 41 mil beneficiários.
A recuperação da economia, com a superação da pandemia, pode apresentar um momento oportuno para investimentos em recursos próprios. A construção de um hospital, por exemplo, tem prazo de conclusão de aproximadamente 2 anos, ou seja, a inauguração desse serviço poderá coincidir com o momento de retomada da economia. Esses recursos próprios podem trazer ganho de escala para as cooperativas, com melhor controle da qualidade e dos custos assistenciais, ampliando assim a eficiência necessária para prosperar neste mercado cada vez mais acirrado.
Observações:
Para a análise foram consideradas apenas as singulares cooperarativas, excluindo assim as federações, intrafederativas e demais Unimeds não singulares.
Foram retiradas da amostra analisada: Unimed Centro Oeste e Tocantins (DF), Unimed Macapá (AP), Unimed Manaus (AM), Unimed Cerrado (GO), Unimed Petrópolis (RJ), Unimed Angra dos Reis (RJ), Unimed Taubaté (SP), Unimed Palmas (TO), Unimed Sul do Pará (PA) e Unimed Rio Branco (AC) por , sendo ausência de dados de Beneficiários ou de demonstrativos financeiros, ou Patrimônio Líquido negativo.
Para visualizar todas as singulares analisadas, basta clicar aqui.
Acesse os principais resultados financeiros das cooperativas, separados por decil aqui. Entenda os cálculos apresentados aqui.
Ps: Texto realizado pelo Gerente de Inteligência de Mercado José Luis Orsi, com apoio do Diretor de Projetos Prof. Dr. Ulisses Rezende.
O desempenho financeiro das Unimeds em 2019 apresentou uma redução geral nas margens operacionais, com impactos mais fortes nas cooperativas de menor porte. A análise também revela que, enquanto algumas regiões conseguiram melhorar suas margens EBITDA, o aumento nos custos e despesas administrativas pesou negativamente. As perspectivas para 2020 indicam um cenário desafiador, especialmente com a crise econômica e o aumento da inadimplência. No entanto, o setor de saúde suplementar pode encontrar oportunidades de crescimento e consolidação no médio prazo.
Saiba mais sobre
Como foi o desempenho geral das Unimeds em 2019?
As Unimeds enfrentaram uma redução nas margens operacionais, especialmente nas menores cooperativas.
Quais foram as principais regiões com desempenho positivo em 2019?
Estados como Ceará, Paraíba e Santa Catarina apresentaram crescimento nas margens EBITDA.
O que contribuiu para a queda dos resultados financeiros das Unimeds?
Aumento dos custos operacionais e despesas administrativas foram os principais fatores.
Como as cooperativas menores foram afetadas em 2019?
As cooperativas menores sofreram mais com a redução das margens operacionais e líquidas.
Quais são as expectativas para 2020 no setor de saúde suplementar?
2020 será desafiador, com impacto da crise econômica e possíveis aumentos nos custos devido à retomada de procedimentos eletivos.
Houve algum ganho de escala observado nas cooperativas de maior porte?
Sim, as maiores cooperativas mostraram menor impacto das despesas administrativas em relação às receitas operacionais.
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